Só a existência de dois Brasis completamente opostos: o Brasil das elites e o Brasil dos desprovidos de dignidade pode explicar uma guerra sem sentido, sem razão. Canudos revestiu o sertão nordestino de sangue. Uma mancha da nossa história recente que não podemos deixar ser apagada, esquecida.
NASCIMENTO DE CANUDOS
Canudos é filho do latifúndio, da seca, da miséria, da opressão e exploração dos coronéis, do descaso de grande parte da sociedade civil e do setor público com as questões sociais, encarada e tratada como "caso de polícia". Esse cenário de miséria, desolação e sofrimento gerou uma "sociedade alternativa", renascendo no sertanejo oprimido uma luz de esperança no fim do túnel.
DESCRIÇÃO DE CANUDOS
Embora parecesse uma favela, Canudos era um aglomerado impressionante: possuía 5.200 casas e cerca de 20 ou 25 mil habitantes. Eram números espantosos: em fins de 1896, Juazeiro, a maior cidade do norte da Bahia tinha 3 mil moradores, e a capital, Salvador, 200 mil. A maioria absoluta dos habitantes de Canudos era de sertanejos indigentes, agrupados em torno do beato Antônio Conselheiro, visto por todos como a luz da esperança, o salvador.
O Anticristo nasceu
Para o Brasil governar
Mas ai está o Conselheiro
Para deles nos livrar.
MORTE DE CANUDOS
"Uma tragédia moderna em grandes dimensões" (Salman Rushdie)
Canudos foi assassinado pela cegueira incurável das elites brasileiras em relação as questões sociais, pelo sensacionalismo e insensibilidade da imprensa, pela omissão da Igreja Católica que via Conselheiro como um fanático ladrão de fiéis, pela relação promiscua do Estado com o poder econômico. A nascente República não era uma "coisa pública", e sim, uma instituição privada, um capitão do mato a serviço das oligarquias que sentiam-se ameaçadas pelo "mau" exemplo do povo livre dos grilhões perante a grande massa excluída e subjugada.
Foto de Flávio de Barros, 1897. Poucas pessoas foram feitas prisioneiras em Canudos. A maior parte das famílias que habitava o arraial e que na visão dos poderosos era uma ameaça foi extirpada, exterminada e degolada. Esse era o caminho mais fácil para resolver as questões sociais que colocava em risco, mesmo de forma micro, a ordem vigente.
"A Guerra de Canudos foi o requinte da perversidade humana". (Cezar Zama)
A destruição de Canudos significou a morte da "cidade da utopia". Passados 121 anos da lastimável tragédia, a História ratifica que a busca por inclusão no campo, pelo fim das mazelas que afligem milhões de brasileiros não passa de uma ilusão, de um desejo inacansável.
A utopia de Canudos, o brado de rebeldia do oprimido contra o opressor, ecoa até hoje. Essa luta só chegará ao fim quando a justiça social deixar de ser um sonho para muitos e tornar uma realidade para todos.
"Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. É foi na significação integral da palavra, um Crime. Denuncemo-lo". (Euclides da Cunha)
☠️☠️SANDRO LUCAS☠️☠️
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