Pular para o conteúdo principal

"CÁLICE": ANÁLISE DA MÚSICA DE RESISTÊNCIA A REPRESSÃO DO GENIAL CHICO BUARQUE.

O REGIME MILITAR (1964-1985) TENTOU AMORDAÇAR A EXPRESSÃO ARTÍSTICA, MAS CONTRARIANDO SEUS OBJETIVOS, FOI UM PERÍODO DE GRANDE GENIALIDADE COM A PRODUÇÃO DE OBRAS DE ARTE, COMO A MÚSICA "CÁLICE" DE CHICO BUARQUE. 
A MÚSICA FOI UTILIZADA COMO FORMA DE ABRIR OS OLHOS DA POPULAÇÃO PARA AS QUESTÕES QUE AFLIGIAM O PAIS, COMO A REPRESSÃO, CENSURA E OPRESSÃO.
CHICO BUARQUE É CONSIDERADO O MAIS PRODUTIVO E ENGAJADO COMPOSITOR DE PROTESTOS, DONO DE UM TALENTO EXTRAORDINÁRIO PARA DESPISTAR A CENSURA.

Francisco Buarque de Hollanda (Rio de Janeiro, 19 de junho de 1944) é um músico, compositor, dramaturgo e escritor, apontado como um dos grandes nomes da MPB (música popular brasileira). Autor de canções que se opunham ao regime autoritário vigente (como a famosa "Apesar de Você"), foi perseguido pela censura e pela polícia militar, acabando por se exilar na Itália em 1969. 
Quando regressou ao Brasil, continuou denunciando o impacto social, econômico e cultural do totalitarismo, em músicas como "Construção" (1971) e "Cálice" (1973). 

INTERPRETANDO A LETRA DA MÚSICA.

"Cálice" se tornou num dos mais famosos hinos de resistência ao regime militar. Trata-se de uma canção de protesto que ilustra, através de metáforas e duplos sentidos, a repressão e a violência do governo autoritário
CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA OUVIR NA INTEGRA A MÚSICA NA VOZ DE CHICO BUARQUE E MILTON NASCIMENTO.
https://youtu.be/228aoyodpT8

VOU PUBLICAR, POR EXCELÊNCIA, A ANALISE DA MÚSICA FEITA POR CAROLINA MARCELLO

Refrão

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice 
De vinho tinto de sangue

Usa a paixão de Cristo como analogia do tormento do povo brasileiro nas mãos de um regime repressor e violento. Se, na Bíblia, o cálice estava repleto do sangue de Jesus, nesta realidade, o sangue que transborda é o das vítimas torturadas e mortas pela ditadura.

 A frase ganha um significado ainda mais forte quando reparamos na semelhança de sonoridade entre "cálice" e "cale-se". Como se suplicasse "Pai, afasta de mim esse cale-se", o sujeito lírico pede o fim da censura, essa mordaça que o silencia

Primeira estrofe

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta 
Tanta mentira, tanta força bruta

 Repressão se fazia sentir, pairando no ar e atemorizando os indivíduos. O sujeito expressa a sua dificuldade em beber essa "bebida amarga" que lhe oferecem, "tragar a dor", ou seja, banalizar o seu martírio, aceitá-lo como se fosse natural. 
Refere também que tem que "engolir a labuta", o trabalho pesado e mal remunerado, a exaustão que é obrigado a aceitar calado, a opressão que já se tornou rotina.
Mantendo o imaginário religioso, o eu lírico se diz "filho da santa" o que, neste contexto, podemos entender como a pátria, retratada pelo regime como intocável, inquestionável, quase sagrada. Ainda assim, e numa atitude desafiadora, afirma que preferia ser "filho da outra". 
Queria viver sem ditadura, sem "mentira" (como o suposto milagre econômico que o governo aclamava) e "força bruta" (autoritarismo, violência policial, tortura).

Segunda estrofe

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
 Nestes versos, vemos a luta interior do sujeito poético para acordar em silêncio a cada dia, sabendo das violências que aconteciam durante a noite. Sabendo que, mais cedo ou mais tarde, também se tornaria vítima.
Chico faz alusão a um método bastante usado pela polícia militar brasileira. Invadindo casas durante a noite, arrastava "suspeitos" das suas camas, prendendo uns, matando outros, e fazendo sumir os restantes.
Perante todo esse cenário de horror,confessa o desejo de "lançar um grito desumano", resistir, combater, manifestar sua raiva, na tentativa de "ser escutado".
Apesar de "atordoado", declara que permanece "atento", em estado de alerta, pronto para participar da reação coletiva.
Sem poder fazer outra coisa, assiste passivamente na "arquibancada", esperando, temendo ,"o monstro da lagoa".  A figura, própria do imaginário das histórias infantis, representa aquilo que nos foi ensinado que devemos temer, servindo de metáfora para a ditadura.
"Monstro da lagoa" também era uma expressão usada para referir os corpos que apareciam boiando nas águas do mar ou de um rio. 

Terceira estrofe

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Aqui, ganância é simbolizada pelo pecado capital da gula, com a da porca gorda e inerte como metáfora de um governo corrupto e incompetente que não consegue mais operar.
A brutalidade da polícia, transformada em "faca", perde seu propósito pois está gasta de tanto ferir e "já não corta", sua força vai desaparecendo, o poder vai enfraquecendo
Apesar de ser forçado a reprimir palavras e sentimentos, continua mantendo o pensamento crítico, "resta a cuca". Mesmo quando deixamos de sentir, existem sempre as mentes dos desajustados, os "bêbados do centro da cidade" que continuam sonhando com uma vida melhor. 

Quarta estrofe

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel 
Me embriagar até que alguém me esqueça

Contrastando com as anteriores, a última estrofe traz um laivo de esperança nos versos iniciais, com a possibilidade do mundo não se limitar apenas àquilo que o sujeito conhece.
Querendo inventar seu "próprio pecado" e morrer do "próprio veneno", afirma a vontade de viver sempre segundo as próprias regras, sem ter que acatar ordens ou moralismos de ninguém.
Sonhando com a liberdade, demonstra a extrema necessidade de pensar e se expressar livremente. Quer se reprogramar de tudo o que a sociedade conservadora lhe ensinou e deixar de estar subjugado a ela ("perder teu juízo").
Os dois versos finais fazem alusão direta a um dos métodos de tortura usados pela ditadura militar (a inalação de óleo diesel). Ilustram também a uma tática de resistência (fingir perder os sentidos para que interrompessem essa tortura). 
"ALÔ, LIBERDADE. DESCULPA EU VIR ASSIM SEM AVISAR, MAS JÁ ERA TARDE.
EU TENHO TANTA ALEGRIA, ADIADA, ABAFADA, QUEM DERA GRITAR.
E POR FUGIR AO CONTRÁRIO, SINTO-ME DUAS VEZES MAIS VELOZ
VEM, MAS VEM SEM FANTASIA.
É SEMPRE BOM LEMBRAR QUE UM COPO VAZIO ESTA CHEIO DE AR". (CHICO BUARQUE)

VOU DEFINIR O GENIAL ARTÍSTA CHICO BUARQUE ATRAVÉS DAS PALAVRAS DE OUTRO GENIAL ARTÍSTA BRASILEIRO:

"PARA O BRASIL, É UMA COISA MUITO BOA TER UM CHICO BUARQUE. ELE É UM GÊNIO, DEPOSITÁRIO DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA. GRANDE POETA, GRANDE MÚSICO, GRANDE LETRISTA, GRANDE ESCRITOR, GRANDE TUDO". (TOM JOBIM)

☠️☠️☠️SANDRO LUCAS☠️☠️☠️

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PÊNIS QUE ENTRARAM PARA HISTÓRIA

                                       RASPUTIN-O KID BENGALA RUSSO. Entre os pênis que entram para história, o de Rasputin é um dos que mais oo chama atenção. Além da preponderância do orgão genital, era um verdadeiro pegador. Mas seu desejo por mulheres o trairia. Ele foi convidado pelo príncipe Felix a conhecer sua mulher Irina, a bela sobrinha do czar, e caiu numa armadilha. Foi envenenado, esfaqueado e jogado nas águas geladas do rio Neva. Seu pênis foi cortado e guardado por um serviçal. CARLOS MAGNO-REI FRANCO O rei que uniu a Europa Ocidental sob o cristianismo era um homem alto, forte e aparentemente saudável. Mas tinha o pênis danificado por uma irritação na bexiga, que dificultava a prática do sexo e o obrigava a correr para o penico várias vezes por noite. Coitado!  Como rei, podia traçar todas as donzelas, mas... . AFOTO ACIMA, MOS NAPOLEÃO BONAP...

CONHEÇO O MEU LUGAR: INTERPRETAÇÃO, PARTE I, DA BELA MÚSICA DO POETA BELCHIOR.

CONHEÇO O MEU LUGAR, OBRA PRIMA DO NOSSO GENIAL E ETERNO CANTOR E POETA. A MÚSICA ABORDA A DISCRIMINAÇÃO DO NORDESTINO E O PERÍODO MILITAR. NESTA POSTAGEM VOU TRANSCREVER DUAS PASSAGENS DA MÚSICA QUE BELCHIOR FALA DA DISCRIMINAÇÃO E DO ORGULHO DE SER NORDESTINO. " O QUE EU POSSO FAZER UM SIMPLES CANTADOR DAS COISAS DO PORÃO? DEUS FEZ OS CÃES DA RUA PARA MORDER VOCÊS QUE SOB A LUZ DA LUA OS TRATAM COMO GENTE - É CLARO! - AOS PONTAPÉS". Nessa passagem Belchior deixa bem claro o tratamento ao chegar no Sudeste e as dificuldades que enfrentou, mesmo com grande talento, para conseguir seu espaço no meio artístico. Ele fala que por não ser uma pessoa conhecida, "Um simples cantador das coisas do porão" , ou por ser simplesmente mais um jovem nordestino, é discriminado, tratado com desprezo, como se fosse "cães de rua", "aos pontapés" "NÃO! VOCÊ NÃO ME IMPEDIU DE SER FELIZ! NUNCA JAMAIS BATEU A PORTA EM MEU NARIZ...

POR QUE O AMANTE É CHAMADO DE RICARDÃO E O MARIDO TRAÍDO DE CORNO E CHIFRUDO?

                                            PIADA-RICARDÃO E O MARIDO INOCENTE Ao chegar mais cedo em casa, o marido encontrou a mulher nua na cama respirando ofegante. Perguntou preocupado: - O que foi querida? Não está bem? - Acho que é um ataque do coração... - Respondeu ela. Ao ouvir isso, o marido correu feito louco ao telefone para chamar o médico. Enquanto tentava discar, o filho chegou perto dele e avisou: - Pai, tem um homem pelado no banheiro. O marido foi até lá, abriu a porta e deu de cara com o melhor amigo. Ficou indignado: - Pelo amor de Deus, Ricardo. A minha mulher está enfartando, coitadinha, e tu aí a assustar as crianças!!!                                             ORIGEM DO NOME "RICARDÃO" Originou-se de um personagem de "Primo Ric...