A canção conta o dia do trabalhador da construção civil. É uma letra, um corajoso e belo poema de protesto, considerando-se o contexto histórico em que foi escrita, nos anos em que o Brasil está sob o regime militar.
CHICO BUARQUE FOI PROFUNDO. LEIA A LETRA E OUÇA A MÚSICA!
QUEM SABE UM DIA OS INVISÍVEIS E DESCARTÁVEIS TORNAM-SE VISÍVEL, HUMANOS E IGUAIS PERANTE A SOCIEDADE.
CONSTRUÇÃO
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
ANÁLISE DA LETRA
Chico Buarque faz com maestria uma crítica social ao homem ser tratado como máquina, como coisa, como um ser descartável, através da descrição da rotina de uma vida automotiva de uma pessoa que, como qualquer um de nós, possui sentimentos, sonhos, ilusões e amor.
Chico, com sensibilidade, fala do destino comum a todo homem laborioso, fala do quanto nos sentimos socialmente massacrados pelo sistema, fala da nossa frágil e delicada humanidade.
A letra poética da canção nos desperta sentimentos variados, revolta, medo, tristeza, indignação. Pois identificamos com o pobre operário: construímos paredes que julgamos sólidas mas, muitas vezes, são flácidas; amamos como máquina por não perceber que pode ser a última vez; queremos viver como se fosse sábado e não como se fôssemos o último.
A parte da canção que me causou mais revolta, indignação, está justamente na forma como a morte do operário é tratada: um estorvo para os outros mais do que uma tragédia pessoal. O ser humano que se acidenta "atrapalha o tráfego", "atrapalha o público", "atrapalha o sábado".
TEXTO INSPIRADO NO ARTIGO DE ANA LÚCIA GOSLING.
A canção comovente de Chico Buarque faz uma crítica a extrema individualidade imposta pelo sistema, onde o "ter" é mais importante que o "ser". Ele narra os últimos momentos de um operário, de um sujeito invisível perante a insensível sociedade, fato comum, que cansado, assolado pela tristeza, solidão, sufocado pelo mundo materialista, decide dar fim a própria vida. Mostra também, o descaso e a insensibilidade da sociedade perante os "descartáveis", os "invisíveis".
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