No começo de abril, a cidade de São Paulo viveu quatro dias tensos, com saques e motins pela cidade toda. O tumulto começou em Santo Amaro, local de forte concentração de desempregados, vitimados pela crise econômica. Os empregados se concentravam na frente de uma fábrica que supostamente oferecia trezentas vagas, mas a oferta não passava de um boato. Alguns líderes tentaram organizar uma passeata até o centro comercial do bairro, mas ao longo do trajeto a multidão explodiu em raiva, saqueando lojas e quebrando fachadas. Após essa primeira explosão localizada, o protesto sem controle, sem centro, sem liderança organizada, se espalhou pela cidade. Em um dos minicomícios que aconteceram, um pintor desempregado resumiu o sentimento da multidão: "Enquanto não quebrar tudo eles (autoridades) não acreditam". Uma das melhores sínteses sociológicas foi de um palhaço que animava o movimentado Largo 13 de Maio: "Nunca vi nada igual na vida. É a guerra da fome".
A "guerra da fome" se espalhou pela cidade no dia seguinte, ganhando a imprensa. Grupos errantes de desempregados, com lideranças difusas e dispersas que não conseguiam conter a raiva coletiva, vagavam pela cidade. A Polícia Militar foi acionada, mas não conseguiu conter o tumulto apesar da violência repressiva. O "cassetete democrático", como a oposição apelidou a política repressiva aos ataques, doía tanto quanto o cassetete ditatorial.
O protesto chegou ao Palácio Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, onde a multidão enfurecida forçou a grade até derrubá-la, apontando para uma iminente invasão das dependências. No terceiro dia de protestos, a situação começou a se acalmar, mas o saldo de destruição material foi grande: 40 Km de ruas e avenidas atingidas pelos distúrbios, 500 pessoas detidas, 127 feridos, 23 veículos destruídos e 1 morto.
Já o saldo psicológico sobre as elites e uma classe média assustada era bem maior que tudo isso. Prenunciava-se o "grande medo" das multidões em fúria, sinal de crises sociais e políticas maiores.
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